terça-feira, 16 de julho de 2013

Profissional de Educação Física é fundamental na recuperação de pacientes psiquiátricos

Além da saúde física, o profissional colabora com a saúde emocional dos pacientes. 

Quando começa a trabalhar, o profissional de educação física encontra uma grande variedade de públicos com o qual pode colocar em prática o que aprendeu. Crianças, idosos, fitness e obesos são algumas das opções mais comuns para quem quer trabalhar com a saúde e o bem-estar do corpo. O que poucos se lembram de que há outros tipos de alunos que também podem se apresentar como um nicho bastante interessante de trabalho e, neles se encontram os pacientes de transtornos psiquiátricos.

O professor Marcelo de Barros Leitão, personal trainer e sócio-proprietário da DO IT Performance, trabalha com este público especial e conta que não podemos separar os pacientes psiquiátricos por faixa etária ou gênero, já que o direcionamento da atividade é para todos e esse nicho engloba transtornos como esquizofrenia, bipolaridade, depressão, síndromes, dependência química, alcoolismo, compulsões e até mesmo terapia de casais e alguns pacientes “estão” com o transtorno, já que pode ser algo temporário ou causado por um trauma, enquanto outros “são”, pois a doença vai acompanha-los por toda a vida.

Na hora de trabalhar com pacientes psiquiátricos, Barros diz que a avaliação dos pacientes durante as atividades são divididas de acordo com o grau da doença e, desde que o médico autorize o paciente para a prática, o contato com o profissional de educação física é mais do que recomendado! “Já tive grupos que eram levados ao Parque do Ibirapuera e, junto com uma equipe multidisciplinar, separávamos os pacientes em dois grupos: aqueles que gostavam de esportes coletivos e os que precisavam com maior urgência de um trabalho individualizado”. Muitas vezes, por descuido e até falta de informação, os pacientes são discriminados e quando vão para alguns centros esportivos, não recebem a atenção devida, o que agrava a doença. “Temos que dar esse suporte e gosto de juntar pessoas com transtornos diferentes, porque cada experiência é importante para que eles percebam que a vida deles não está tão ruim perto da de outra pessoa, para aprenderem juntos” , diz Barros.

Para a terapeuta ocupacional Osmari Virginia Mendonça Andrade, de São José do Rio Preto (SP), o trabalho com o corpo é fundamental para que esses pacientes possam se expressar. Dança, teatro e exercícios físicos ajudam na sua funcionalidade cotidiana, na sua inclusão social etc. “A atividade física não exclui pessoas. É para todos e ajuda na qualidade de vida. Trabalhamos o lado saudável e isso é sempre muito benéfico”, salienta.

Osmari concorda que a dificuldade de um paciente suplementa a do outro. “Quando um não consegue fazer, mas vê o outro fazendo, se estimula e tenta. A questão do grupo é muito importante. Trabalhamos desde idosos até jovens e quem tem um transtorno psiquiátrico, uma depressão, por exemplo, chega e vê uma pessoa mais velha lutando contra a doença e tem vontade de lutar também”.

Locais de trabalho

Quem opta por trabalhar com pacientes psiquiátricos também conta com opções diferenciadas de trabalho, como hospitais, clínicas etc. “Trabalho muito com ‘Hospitais-Dia’, nos quais o paciente está interditado ou de licença, chega lá pela manhã, faz as atividades para se enquadrar – seja para desintoxicação medicamentosa seja para inclusão social - e no fim do dia retorna pra casa”, conta o profissional de educação física.

Outra possibilidade está no trabalho do personal trainer: quando o paciente recebe alta, pode seguir com a rotina de exercícios com este profissional. Inclusive para aqueles que não tem retorno, como os esquizofrênicos, que precisam de um acompanhamento com medicação constante, o trabalho do personal vai ajudar a reduzir a ansiedade, desintoxicar o organismo e ressocializar o paciente com um trabalho específico para as suas necessidades.

“De perto, ninguém é normal”

A famosa frase de Caetano Veloso nunca foi tão verdadeira. Marcelo e Osmari contam que ao conviver com os pacientes psiquiátricos, aprenderam que há muitas características que eles apresentam e que fazem parte do nosso cotidiano, demonstrando que, realmente, “todo mundo é meio louco” e, mais do que isso, que é possível aprender mais com eles do que ensiná-los. 

O aprendizado também é imenso não apenas no âmbito profissional, como também no pessoal: “Para trabalhar com esse público é preciso ter um perfil de promoção da qualidade de vida, não só de fitness. Além disso, o profissional tem que ser seguro e tem que saber separar o que é profissional e o que é pessoal para não se deixar envolver. Tem que ter pulso firme e ser persuasivo, porque às vezes o paciente bate o pé que não quer fazer a atividade e você tem de convencê-lo. Tem que insistir, não pode desistir fácil” explica.

Além do preconceito social que os pacientes com transtornos psiquiátricos enfrentam, muitos precisam lidar justamente com a própria dificuldade em aceitar a doença. “Os primeiros dias são difíceis. Quando a pessoa entra nesse universo e se identifica, se não está com a cabeça boa ou num momento pessoal legal, acaba se revoltando. É importante colocar pra ela que não é algo fora da realidade e que elas precisam de tratamento, assim como alguém que tem uma amidalite, por exemplo”, conta Marcelo de Barros.

“A terapia ocupacional não trabalha com diagnóstico, mas com pessoas, independentemente do transtorno que ela tem. Vemos cada pessoa como um ser humano com alguma dificuldade em alguns requisitos e ajudamos a resgatar sua autonomia, seus movimentos, não intensificar a doença”, explica Osmari, que defende que o trabalho com o corpo faz com que o paciente psiquiátrico ganhe mais autonomia no trabalho, no lazer e consigo mesmo, já que muitos, após o diagnóstico, deixam de se valorizar, de se acreditar, de ter iniciativa e criatividade.

Trabalho em equipe

São muitos os profissionais envolvidos no tratamento de um paciente psiquiátrico: médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas e profissionais de educação física, juntos, ajudam a definir o melhor tratamento para cada paciente.

E o diálogo está sempre presente, não apenas para definir qual a melhor abordagem terapêutica, mas também para aprender mais sobre o problema de cada paciente e até mesmo para buscar suporte emocional para lidar com ele. Afinal, somos humanos!

Barros recomenda que os profissionais de educação física que desejam trabalhar com esse nicho deve estudar a fundo cada doença que pode ser classificada como psiquiátrica para entender se ela é congênita ou genética e como trata-la via atividade física. Há cursos de psicologia direcionados também. 

Resultados visíveis

Quando alguém vai para a academia tem um objetivo em mente, que pode ser emagrecer, fazer amigos, ganhar bem-estar. Com os pacientes psiquiátricos não é diferente, tanto que são analisadas as mesmas variáveis neles, como peso, percentual de gordura, dobra cutânea etc. 

O principal impacto gerado pela atuação do profissional de educação física nestes pacientes, na opinião de Marcelo de Barros Leitão, se dá na autoestima. “A pessoa com a autoestima melhora os pensamentos, se torna mais segura e acaba até trazendo outros pacientes para a atividade. Eles são muito solidários.” 

A presença dos familiares no tratamento também é sempre estimulada pela equipe multidisciplinar, não importa qual seja o transtorno vivido pelo paciente. Muitos, segundo Osmari, não sabem lidar com a doença do parente e acabam colocando-o de lado na rotina da casa, o que não ajuda no tratamento. “Tentamos transmitir para eles a importância da família no dia a dia desses pacientes”, conclui.

Por Jornalismo Portal EF 

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